quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Sinais da pedagogia de Deus



            A festa da assunção de Maria ao céu, celebrada no próximo final de semana, à parte dos aspectos polêmicos em torno do dogma, representa o grande e profundo anseio dos discípulos de Jesus Cristo em nossos dias, para um dia estarmos no céu através de um itinerário parecido com o de Maria.
            O evangelista Lucas soube fazer uma leitura muito interessante dos acontecimentos que envolveram Jesus Cristo. Percebeu um indicativo da pedagogia de Deus, pois, observou que nada das manifestações divinas passou por meio das clássicas procedências de grandeza e poder. Para começar, Jesus não nasceu num palácio, nem foi filho de rainha, e, o povo que conheceu sua mãe, não fora obrigado a saudá-la com a expressão: “bendito seja o fruto do teu ventre!”, como era obrigado a dizer diante das rainhas grávidas.
            Ao fazer uma retrospectiva do que envolveu Jesus Cristo, Lucas constatou que sua mãe fora simples, humilde e serviçal. Mesmo grávida, foi prestar um serviço de ajuda à sua prima, enfim, nada do que era importante nos escalões do poder humano. Assim, Lucas também constatou que, já no Primeiro Testamento, Deus tinha dado sinais da inversão dos poderes humanos. Agiu através de muitas mulheres para mudar a cabeça obsessiva e destruidora de seus maridos. Nelas, toda a ação de Deus se mostrara não de cima para baixo, de poder, de honra e grandeza, mas, de pequenez, de humildes serviços e de gestos. Veio uma dedução muito importante: as grandes coisas de Deus acontecem de baixo para cima!
            Os sinais mais fortes e evidentes da ação de Deus ao longo da história do povo hebreu contaram com a mediação de mulheres como Rute, Ester, Mírian, Judite e tantas outras. Maria aparecia no mesmo contexto de mulheres simples e serviçais para o bem comum. Isto permitiu a Lucas selecionar as frases próprias do poder oficial e invertê-las para referir-se a Maria, mãe de Jesus Cristo: observara que Deus valeu-se de pessoas humildes para suas grandes obras. E é nesta perspectiva que se pode entender o canto do Magnificat, um hino que canta o modo como Deus subverteu a grandeza do poder humano. Seus gestos muito eloqüentes revelavam que o triunfo final da vida é alcançado pelo caminho da humildade.
            Longe das honras, procissões vistosas e ornamentos requintados, tão facilmente identificáveis nas imagens de Maria, o hino do Magnificat nos interpela ao itinerário de um caminho bem distinto: não o da deusa poderosa, ornada com jóias, com coroa e tanta manipulação pelo avesso do imagético das imagens de Maria, mas, pelo caminho simples, discreto e atuante em favor do bem comum.
            Que os nossos anseios de assunção possam, no caminho de Maria, elevar-nos acima da prepotência humana e das roupagens que traem as raízes da nossa fé!


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