Consciente,
ou, inconscientemente, tendemos a expressar alguma fé em algo superior. Ou para
sair de alguma contingência, ou mesmo por necessidade diante dos medos e
riscos, somos levados a nos reportar para algo novo, que possa ajudar a sair de
algum fatalismo e que seja capaz de evitar o fracasso ou a morte. Muitas vezes também
nos sentimos obrigados a pensar algo diferente e mais significativo do que idéias
negativas que ocupam obsessivamente nosso psiquismo.
Para
cristãos, ainda que por razões frágeis, o cultivo de um horizonte de
expectativas em torno do que Deus pode fazer - na mediação de Jesus Cristo - é
algo central. Na prática, porém, tende-se a expressar uma fé mais acentuada nas
leis do mercado, estas que apontam um vasto horizonte de felicidade,
simplesmente, a partir do produzir e do consumir.
Ainda que, eventualmente, situações
especiais levar aos apelos de Deus, o dia-a-dia torna-se cada vez mais perpassado
pela profissão de fé do outro deus produzido: o do mercado! Sua exigência é aparentemente
muito mais compensadora e bem mais fácil de ser seguido do que aquele conjunto
de procedimentos éticos, morais e religiosos requeridos pelo Deus da
experiência bíblica: basta entrar na onda generalizada de comprar e de consumir
muito!
No tempo do
profeta Isaías criou-se uma polêmica em torno do administrador ou mordomo do
palácio do rei: Sobna, detentor das chaves, desviava do acesso ao rei os que mais
precisavam da sua ajuda. Isaías passou a defender a substituição do Sobna por
Eliacin, porque este era homem respeitoso, de boa índole, e, que poderia facilitar
o acesso a quem realmente precisasse chegar ao Rei.
No Evangelho
de Mateus (16,13-20) destaca-se uma delegação parecida: Jesus constituiu a
Pedro como pedra fundamental, depois que este fizera uma rica declaração de fé.
Jesus lhe prometeu as “chaves” do reino do céu, para bem conduzir ou
administrar a comunidade dos discípulos seguidores. A chave não constituía
honra e nem grandeza de poder auferida a Pedro, mas, um chamamento ao humilde
serviço de desvelo e de cuidado da comunidade cristã.
Nesta perspectiva, ligar e desligar
significa reconhecer um importante papel da comunidade: seu serviço pastoral
pode ligar ou excluir, bem como, afastar interessados ao acesso. Portanto, se
pessoas estão ansiosas para livrar-se das “portas do inferno” de sofrimentos e
de contrariedades profundas, e querem evadir-se deste desespero, não fica
interessante valer-se da função na comunidade para protelar acessos e para excluir.
Em outro sentido, que o humilde serviço das
comunidades cristãs possa abrir e ligar para o caminho que salva e não fazer
como Sobna que só favorecia alguns privilegiados ao acesso do Rei.
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