João Inácio Kolling
Quando os anjos deixam a função de serem portadores de
boa mensagem de Deus, perdem a razão de serem anjos. Sobra-lhes, então, a aposta
no próprio corpo para encantar as pessoas.
SINOPSE
A rica dimensão
simbólica do Sagrado perde a capacidade de articular “centros organizadores”
para criar sintonia entre os seres humanos no seu desejo de interação com o
Sagrado. Com isso, perde também a virtualidade de facilitar bom entendimento
humano, em sintonia com a ação inefável, divina ou sagrada de um ser superior.
Sem os
referenciais simbólicos e fundantes, o Sagrado é transformado em mero produto
de consumo. Assim, as celebrações religiosas e litúrgicas passam a
evidenciar-se como espetáculos nos quais se imita o aparato imagético
televisivo.
Papavras-chave: Sagrado – mídia – espetáculo – show - emoção e transe.
1 - Preâmbulo
São conhecidas
duas grandes maneiras de interpretar o mundo e as coisas: a visão profana e a
religiosa. Neste texto damos ao termo “Sagrado” a conotação de divino,
transcendente e inefável e que se situa além do nosso mundo de referências.
A leitura religiosa vê o mundo e a vida a
partir do Sagrado, como “centro organizador” e a organização da vida de uma
entidade religiosa, quer facilitar o bom ordenamento do Sagrado, a fim de que a
“ordem” prevaleça sobre o “caos” no mundo dos humanos.
O grande papel das
instituições religiosas, de forma geral, na sua longa história e no seu empenho
de colaborar com o Sagrado – teve sempre o intento de criar uma boa
circularidade em torno do Sagrado.
Sem estes
referenciais, o campo do Sagrado fica delimitado ao contexto da mídia e
concorre com outros meios de consumo, através da oferta de espetáculos e
entretenimentos afetivos.
Em nosso tempo, vem
ocorrendo uma inversão da capacidade de aglutinação e de organização das
relações humanas por parte das entidades religiosas, porquanto perdem,
paulatinamente, a capacidade de alargar e de agregar pessoas em comunidades,
pois, este papel foi absorvido pelo sistema de mercado, que transformou tudo em
virtual produto de boa venda para o consumo.
Com a mudança, o
conjunto dos ritos religiosos litúrgicos e as celebrações festivas, com vistas
a colaborar com o Sagrado e criar um entorno que lhe facilita dominar e
harmonizar o sagrado no profano – agora, destituído da antiga razão simbólica –
fica restrito ao consumo de momentos emocionantes.
1 – A mídia como novo
centro organizador
Desde tempos milenares a organização da vida
a partir do Sagrado ofereceu aos espaços religiosos e às celebrações litúrgicas
o papel decisivo de formação de núcleos organizadores da vida, fora do âmbito
divino, mas, vinculados ao divino pelos ritos religiosos e, com o intento de
lhe agregar muitas pessoas de forma edificante.
Observações quase
espontâneas permitem constatar uma redução notável da ação do Sagrado e do
poder religioso como os melhores meios de propiciar ampliação do ambiente
sagrado no meio da convivência humana.
Segundo Jaime
Carlos Patias[1], há visíveis razões para
este enfraquecimento do poder sagrado, que, por sua vez, vem se deslocando para
novos focos:
a)
O “centro
organizador” da vida passa do âmbito sagrado para o interior da sociedade. A perda
de prestígio de muitas entidades religiosas faz com que diminua sua capacidade
ante os incontáveis outros “centros organizadores” presentes no interior da
sociedade;
b)
Os centros
organizadores religiosos concorrem com muitos outros “centros organizadores”,
científicos, midiáticos, etc., e nem sempre conseguem destacar-se como melhores
meios de oferta de sentido para a vida das pessoas;
c)
Da grande disputa
dos muitos “centros organizadores”, emerge o refúgio em novo “centro
organizador” que é o “eu” individual, e que deixa de sentir-se parte dos
membros que constituem a circularidade em torno do Sagrado, mas, ele mesmo se
coloca no centro do Sagrado, e olha os outros “centros organizadores” como o
entorno que o circunda. Nesta mudança, muda também a tradicional distância
entre os centros organizadores religiosos, que através dos ritos religiosos
procuravam uma aproximação, pois, o “eu” já não carece entrar no “centro
organizador” religioso dos outros para o contato com o Sagrado, porque é ele
quem fica no lugar do Sagrado. Em decorrência, muitos indivíduos passam a se
sentir um centro sagrado e que já não requer sacrifícios para ativar a fonte de
origem da sintonia com o Sagrado.
É interessante observar o quanto as manifestações religiosas
neopentecostais exploram o poder divino através do “eu” milagreiro que, em
acesso especial com o Sagrado, recebeu o privilégio de curar, de libertar, de efetuar
milagres e de resolver todos os problemas cotidianos dos outros “eus”. Assim o
divino passa pela pessoa, e não mais por sacramentos e rituais simbólicos que
remetem a uma causa fundante.
Em outras
palavras, ocorreu um salto dos “centros organizadores” religiosos como
oferecedores da “verdade” das religiões, para as verdades subjetivas de
indivíduos que presumem possuir poderes sagrados especiais que os outros não
teriam recebido.
Tal deslocamento, afeta direta e profundamente o conceito de “rito
religioso” (“ritus”, no latim, significa ordem estabelecida) para estar em
sintonia com Deus e adequar-se aos seus desejos de ação, e situar-se na sua
ordem, porque as cerimônias religiosas passam a ser substituídas por outras, manifestamente
profanas e seculares, com a mesma motivação de estabelecer ordem no meio do
caos.
Na naturalidade de se passar de ritos religiosos para os profanos,
com vistas ao alcance dos mesmos fins, também se passa dos tradicionais ritos
religiosos para ritos midiáticos.
E o que oferece um rito religioso profano? Na centralidade do mundo
subjetivo, como lugar sagrado, importa a satisfação emocional: “o rito encontra a sua lógica no momento
em que se realiza e se satisfaz em sua intensidade emocional (uma partida de
futebol, um capítulo da novela, um concerto...) sem outro projeto a não ser
aquele da própria realização sem nenhuma ligação com o mito, mas, só com alguns
valores”.[2]
Quando o rito religioso se desvincula do Sagrado, passa a ligar-se
a qualquer valor da sociedade, não necessariamente religioso: “o rito se emancipa do contexto religioso no
qual era até então obrigatoriamente percebido e é reconhecido como forma geral
de expressão da sociedade e da cultura”.[3]
Nesta mudança, um rito antes religioso, vincula-se apenas a uma
utilidade social, que passa a ser repetido para um fim meramente moral na
sociedade. Em consequência, a mídia reproduz e reforça, com seus ritos, uma
determinada visão de mundo e de sociedade. Os ritos, para tal finalidade,
passam a ser multiplicados e adaptados livremente na mídia. O efeito disso é
amplo e profundo: enquanto os tradicionais ritos religiosos remetem a uma origem,
em vista de uma situação presente para um futuro melhor, os da mídia, são
altamente efêmeros porque toda a espetacularização é para pouca duração, porque
as simbologias ficam atreladas à moda, a um passageiro conceito de corpo sarado
ou à fragmentação dos inúmeros fatos mesclados ao léu.
2 – Sagrado na lógica do
mercado
O mercado não
apenas absorveu a religião e o sagrado, mas, apropriou-se da sua oferta de
sentido, e passou a consumi-la e a vendê-la, como qualquer outro produto à “La
Carte”, isto é, já não é o sagrado que produz instituições de organizações de
sentido para a vida, mas, cada pessoa pode escolher muitos cardápios religiosos
de acordo com a ocasião e o gosto para determinado momento.
No lugar do
perene, do absoluto e do categórico, impõem-se o fugaz, o efêmero, o
instantâneo e o provisório. Longe do compromisso diário para um cultivo da
espiritualidade, ou da regularidade cotidiana de fazer as mesmas coisas,
valoriza-se o pluralismo de possibilidades para lanches rápidos e refeições rápidas
segundo cardápios sugestivos de atendimento via Internet.
No campo
religioso, algo similar se expande, pois, o ditame da sociedade imagética
produz uma fé espetacularizada para ser largamente consumida. E precisa agradar
ao vasto repertório da demanda “fast-food”
de muitos interessados, que sempre estão com muita pressa e que desejam
algo rápido, atraente e hiper-real. Para tanto, fazem-se necessários símbolos
fortes que possam insinuar o consumo dos variados cardápios.
Um ritual
religioso de espetáculo precisa oferecer muita prosperidade a fim de tornar-se
progressivamente eficaz e massivo. As formas religiosas passam a ser
apresentadas da mesma maneira que a dos muitos pratos da lista a “La Carte“,
oferecidos num restaurante.
Transformada em
produto de venda, a Religião entra no disputado processo de conquistar mercado
e uma demanda que produza retorno de venda.
Uma Religião, como
qualquer outra rede de produção de produtos de consumo, requer também técnicas
de persuasão, de visibilidade a fim de que possa despertar desejos de consumo:
os pregadores precisam ser eloquentes, os templos precisam ser encantadores e
os shows religiosos precisam ser altamente sugestivos para atrair mais membros
consumistas. E nada mais sedutor do que o uso da palavra “Self”. É a palavra mágica das chaves da crescente demanda
neopentecostal, que desloca a dimensão religiosa institucional para o
sincretismo religioso onde o indivíduo se serve do que gosta.
Na lógica da
economia de mercado, cabe ao indivíduo escolher o tipo de celebração que lhe
apraz: ora se encanta pela fala eloquente, ora pelo rito de hipnose e transe,
ora pelo milagre fácil e mágico, ora pelo show musical.
Na tradicional
concepção religiosa o indivíduo ia ao espaço religioso para ser orientado naquilo
que lhe seria importante, valioso, e digno de ser feito; agora, como é ele que
escolhe o momento e o tipo de celebração do seu gosto, até suporta algumas
partes de um ritual religioso, em vista do aproveitamento de outras que o
encantam particularmente, como uma cura, uma libertação de crises conjugais, um
descarrego, uma bênção específica, e, ele, na sua condição de servir-se a si
mesmo, escolhe o que lhe interessa como celebração religiosa. Torna-se uma
espécie de “mcdonaldização da fé”:
muitas belas caixinhas com imagens hiper-reais oferecem variados sabores e
montagens de produtos sugestivos para o consumo prazeroso.
3– O poder agenciador das
vestes
Constatamos por
toda parte a tendência imitadora do que se faz no ambiente televisivo, pois, ao
engolir o sagrado, o ambiente televisivo o manifesta como espetáculo. Aos
induzidos para devorar as imagens ou degusta-las pela sedução hiper-real, os
consumidores das imagens passam a ser movidos pelas imagens que assimilaram no
processo de consumo.
Os ritos
religiosos tradicionais impregnam-se do papel de remeter ao mito ou princípio
fundante. Por exemplo, numa celebração eucarística, ela remete à leitura e ao comentário
dos textos bíblicos, a fim de atualizar experiências de reconhecimento do amor
de Deus, sempre com vistas a obter uma nova e boa relação com Deus. Uma
homilia, mais do que mera explicação acadêmica ou moralizante, terá em vista o
alargamento da dimensão simbólica e interpretativa do mundo do texto, a fim de
iluminar a vida e o mundo: para que possam apontar novo céu e nova terra...
Sem esta dimensão
simbólica de um imaginário, uma celebração litúrgica pode facilmente descambar
no “opium populi”, para tornar-se um
momento irracional e emotivo com muitos delírios coletivos: uma
espiritualização sem a materialidade da causa fundante e, por isso, equivale a
uma carnavalização, uma folia efervescente e bem animada, mas, sem aquela
importante função de remeter a um mundo com possibilidade de ação para que ele
se torne integrado a melhores condições.
Assim, um momento
celebrativo move-se numa espiritualização desencarnada e, ao invés de alargar
uma experiência mística, fica restrito a um momento de emotividade. Já não é
uma epifania divina que se situa num ritual religioso, mas, um processo de
exteriorização de emoções agradáveis. Sobra, então, um apofatismo vazio, sem o
campo simbólico que remete a um “logos”.
Convém lembrar que
uma liturgia cristã deveria nortear-se pela sobriedade de uma “nobre simplicidade”
que se ativa quando a razão lógica ou a tentação da folia emotiva pretendem
ocupar o centro hegemônico da vida. Com afirma Ângelo Cardita, num rito
religioso “desaparece a diferença entre
os atores e expectadores e todos se tornam atores diante de Deus, pois
interessa a todos a ação divina”.[4]
Embora nossas
celebrações litúrgicas católicas sejam taxadas como excessivamente verbalizadas
e demasiadamente focadas no livro e na palavra, já desde a herança judaica,
levam, de fato, a maior ênfase ao aspecto racional e discursivo do que ao
aspecto visual e corporal.
“A liturgia é por si só uma celebração na
qual prevalece a linguagem dos símbolos. Uma linguagem mais intuitiva e
afetiva, mais poética e gratuita... é uma celebração e não uma doutrina ou uma catequese.
É a linguagem simbólica que nos permite entrar em contato com o inacessível: o
mistério da ação de Deus e da presença de Cristo”. [5]
Um perigo real que
se apresenta atualmente às celebrações litúrgicas é o dos membros da assembléia
se contentarem em visualizar o que outros fazem, como mero espetáculo, sem
estar em sintonia com o movimento de todos os ritos da liturgia religiosa.
Outro perigo é o
de valer-se das vestes litúrgicas para expressar poder de superioridade sobre
os demais. O comum é que se usem vestuários especiais para momentos especiais.
Por exemplo, ninguém vai vestir-se de noiva para ir fazer compras no mercado,
ou, ir a um velório vestido para banho.
A roupa diferencia
as pessoas (como autoridades, militares, categorias de associações religiosas,
etc.) e, mesmo não sendo um elemento essencial e central, exerce uma
comunicação expressiva. Já no século V o papa Celestino I escreveu a bispos
queixando-se de que alguns sacerdotes tenham introduzido vestes especiais e interrogava:
“por que introduzir distinções no hábito,
se foi tradição não fazê-lo? Não temos de nos distinguir dos demais pela
doutrina, não pela veste, pela conduta, não pelo hábito; pela pureza da mente,
não pelos adereços exteriores (PL 50,431)”. [6]
No ano de 539 o papa
Estêvão proibia sacerdotes andarem vestidos de forma especial fora do âmbito da
Igreja, mas, mais tarde, no século IX voltou
uma onda sacralizadora do uso de vestes e com interpretação do sentido alegórico
e moral de múltiplas razões: uso de alva para indicar pureza; casula para
referir-se à paixão de Cristo, ou imitação dos sacerdotes vétero-testamentários,
e, dali para frente não somente passou-se a abençoar os ornamentos usados em
celebrações, mas, até vieram prescrições de preces para serem rezadas no
momento de vesti-los.
4 – Irrefreabilidade da
imagem midiática sobre a imagética litúrgica
Há uma força quase
compulsiva a arrastar a mídia eletrônica para o culto ao próprio corpo. Até
mesmo as celebrações em lugares distantes de comunidades situadas longe das
cidades, o ditame para o modo de celebrar vem do critério televisivo.
Onde ainda existem
templos, eles são transformados em auditórios. Os púlpitos, que antes
constituíam o lugar para o anúncio da palavra e para simultaneamente esconder o
corpo para dar maior ênfase a quem anunciava a mensagem, passam a ficar de lado
diante do palco, que é o presbitério, onde a palavra já não é mais relevante,
mas, some diante de corpos que são mitificados mediante spots de luz e roupas
de muito contraste, a fim de propiciar um grande espetáculo e que,
impreterivelmente, acaba no culto à imagem.
Os amplos espaços
físicos separam os mundos do palco e da plateia. Integração efetuada pela mídia
eletrônica ocupa o espaço do ambiente e os celebrantes principais aparecem e
somem como os artistas em palcos. Eles ficam no mesmo clima das estrelas de TV
diante de seus fãs. Também o culto se reveste da natureza midiática, que, mesmo
sem vistosas câmaras de filmagem e projeção, esteticamente estes espaços religiosos
passam a assemelha-se aos auditórios de televisão.
Como Alberto Klein
salienta, “se no caso da Renovação
Crismática, o padre Marcelo é apenas uma seta apontada para Jesus, como ele
afirmou muitas vezes, cabe-nos refletir sobre a auto-referencialidade desta
seta. Não há muitas dúvidas de que a seta acaba iluminando a si mesma, em razão
do seu forte brilho”. [7]
De modo sutil,
acaba o mediador religioso obscurecendo a mensagem que quer explicitar, pois,
acaba evidenciando-se a si mesmo e passa a agir como anjo que quer transmitir
uma boa mensagem da parte de Deus, mas, apenas se delimita a apresentar
detalhes do seu corpo e de suas asas...
“A ostensividade dos antigos ícones
religiosos ressurge nos espetáculos religiosos contemporâneos... Está claro que
vivemos em um universo que se multiplica diariamente em imagem na proporção em
que surgem novas mídias. Um mundo que para existir, precisou ver seu reflexo no
espelho.”[8]
O próprio corpo é
transformado em imagem como meio de assegurar existência no meio social; e, a
própria experiência do sagrado já começa a ser delineada sob o olhar
televisual. Assim o homem atual não é apenas criador (senhor e produtor) da obra
midiática, mas resultou simultaneamente em produto da mesma obra midiática, uma
sofisticada máquina de produzir imagens.
5 – Grupos de canto como
grupos de espetáculo
As chamadas
“equipes de animação” de canto, também conhecidas como “ministério da música”,
constituem a ilustração mais visível de como o canto não constitui serviço de
animação da assembleia em celebração, mas, constitui um legítimo espetáculo
para encantar e impressionar a assembleia.
Os cantos da
celebração litúrgica são cada vez mais intimistas e, de maneira similar aos
músicos e cantores profissionais, querem os cantores religiosos notabilizar-se
pela qualidade do seu show.
Os eventos
religiosos públicos como procissões, marchas, celebrações festivas, louvações,
etc. são cada dia mais disputados pelos grupos de canto porque constituem
momentos de afirmação do grupo e tais ocasiões permitem demonstrar o
diferencial do seu nível e da sua qualidade em relação aos outros grupos
concorrentes.
Ao lado da
imitação das características de bandas e de cantores profanos em shows
midiáticos, os grupos religiosos também deslocam a razão do seu serviço
litúrgico: em vez de animar a assembleia, esperam que ela, silenciosa, os
aprecie e que aplauda a apresentação. Assim, o mundo simbólico dos cantos
litúrgicos cede lugar à religião “light”, distante da Teologia e do rubricismo
litúrgico, pois, a novidade é o que mais importa. Parece que a razão principal
é oferecer um espetáculo, que surpreenda e desperte grande emoção e muito
“transe”. Como um grande espetáculo de futebol, supõe-se que a missa produza comoção
coletiva da mesma intensidade.
Reforça-se, pois,
a materialização do “endeusamento do consumo”, marca do nosso tempo, pelo qual
importa, acima de tudo, motivações que encantem para elevados níveis de
sentimentos e paixões. Dali também decorre a ênfase na insistência em repetir
exaustivamente cantos de louvor.
Epílogo
A “mundanização” do Sagrado e sua banalização à condição de se
constituir num produto banal e comum, na disputada publicidade de consumo, não
somente esvazia o mundo simbólico das celebrações religiosas e cúlticas, mas,
as nivela no mesmo patamar do espetáculo e do show.
A perda da carga
simbólica do Sagrado e do seu significado no campo religioso para a
“organização da vida”, certamente levará a religião a ostentar mais anjos, mas
destituídos de qualquer boa mensagem da parte de Deus, pois, estão mergulhados
no comércio de si mesmos, já idolatrados diante da grandiosidade da sua própria
imagem e da visibilidade dos seus corpos esbeltos, atraentes e encantadores,
com vistas a distrair públicos variados.
BIBLIOGRAFIA:
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símbolos. São Paulo: Loyola, 2005.
CARDITA, Ângelo. Liturgia e
Educação: para uma educação da alma. In: VER. INTERD. Em CULTURA E
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KLEIN, Alberto. A
religiosidade da mídia e o fim dos iconoclastas. In: REVISTA DE
COMUNICAÇÃO, CULTURA E TEORIA DA MÍDIA, São Paulo, outubro de 2002, nº1, p.
8-17.
LIRA, André Agra G. O tempo
das tribos: as missas schow, as raves, as torcidas e o schows de rock. In:
andreagraagra.blogspot.com.br/2010/01/o-tempo-das-tribos-as-missas-schow-as.html.
METZ, Cristian Leandro e ROCHA, Ana Luzia Carvalho da. O poder de agência atribuído à vestimenta e
aos objetos sob a ótica da Antropologia social e cultural. 5ª ENP Moda
(Encontro Nacional de pesquisa e moda)2014.
PATIAS, Jaime Carlos. O
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apresentado no II Simpósio de Comunicação na Sociedade do Espetáculo, realizado
nos dias 5 e 6 de outubro de 2007, na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo.
PAEGLE, Eduardo de Moura. O
culto como schow entre os evangélicos brasileiros. In: anais.anpuch.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUCH.S25.0189.pdf
PIERONI, Geraldo. A imagética
inquisitorial: religião, representação e poder. In: SAECULUM – Revista de
História {30}, João Pessoa, jan/jun 2004, p. 63 -74.
VALE, Renilda Santos do. Trajes
do clero: diálogos sobre patrimônio, poder e comunicação. In:
revistas.ubusofona.pt/index.php/cadernossocioeomologia/article/view/5907/3556 ;
acessado dia 26/09/2017.
[1] PATIAS, Jaime Carlos. O SAGRADO E O PROFANO: do rito religioso ao espetáculo midiático.
(Trabalho apresentado no II SIMPÓSIO de
COMUNICAÇÃO na SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, realizado nos dias 5 e 6 de outubro de
2007, na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo).
[2] Idem, ibidem.
[3]
Idem, ibidem.
[4] CARDITA, Ângelo. LITURGIA E EDUCAÇÃO: Para uma educação da alma. In: VER. INTERD. EM CULTURA E SOCIEDADE
(RICS), São Luís, v. 1, nº1, julho/dezembro de 2015, p. 18.
[5]
ALDAZABAL, José. Gestos e símbolos. São
Paulo: Loyola, 2005, p. 14.
[6] Idem, p. 43.
[7]
Op. Cit. p.13.
[8]
Idem, p. 14.
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