sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

VER PARA ESCUTAR

 


Quando as imagens sobrepostas,

Numa alta velocidade de apostas,

Prende no enxergar e ouvir ordens,

O psiquismo só fornece desordens.

 

Anula capacidade contemplativa,

E vê tudo pela comilança passiva,

Atordoado de ofertas e previsões,

Sem capacidade de ativas reações.

 

Vasto controle para um olhar fixo,

Obcecado, cego por imagético lixo,

Só deseja ouvir som altissonante,

Duma indução para vida alienante.

 

Olho que só vê imagem de tornado,

Temporal e as brigas por todo lado,

Só consegue antever a fatalidade,

Sem visualizar sinais de bondade.

 

Incapaz de perceber coisas novas,

Não vê emergir de plantas novas,

Nem ouve clamores da natureza,

E não ausculta as vozes da leveza.

 

Com a visão e audição desfocadas,

Suas sensibilidades já petrificadas,

Apenas anelam por imagens e sons,

Para evadir-se de sentimentos bons.

 

Já não sente a dor e nem a injustiça,

Pois a mente viciada apenas cobiça,

Hiper-imagem, com estômago cheio,

Como um bom mandalete do enleio.

 

Já não se enxerga parte do mistério,

Que impregna a vida sem vitupério,

E que na sabedoria dum bom senso,

Encontra intuição para um ascenso:

 

Não o da violência da acumulação,

Nem da farta terapia da alienação,

Ou do refúgio em caduca tradição,

Mas, para superar injusta condição.

 

Ascenso sem oferta sensacionalista,

Mas, o da pequena ação benquista,

Que alarga caminho da compaixão,

E que escuta os sinais de libertação.

 

Sonha, então para além das ruínas,

De tantas ações humanas cretinas,

E passa a indignar-se com excluídos,

E os tantos sentimentos destruídos.

 

Já não desejará religião dominante,

Veiculada por uma elite mandante,

De vestimenta pomposa e ostensiva,

Para ritualização mágica e dispersiva.

 

Escutará na voz advinda das vítimas,

Uma causa as para ações legítimas,

A favor dos relegados pela cegueira,

Dos surdos que não escutam a eira.

 

No lugar de antigos mandamentos,

Aproxima-se dos humanos alentos,

Advindos da poximidade de alguém,

A romper teias que captam refém.

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

DEMOCRACIA E CRIME ORGANIZADO

 


Celebraram um festivo enlace,

Com a ação subliminar rapace;

Circulam entre Estado e crime,

Na rota de aparência sublime.

 

Sob a ênfase do crime visível,

Transita um mundo invisível,

De cartel em nível horizontal,

Com uma organização vertical.

 

Muita trela sobre narcotráfico,

Do nefasto terrorismo clássico,

Deixa passar a subliminaridade,

De outros cartéis na sociedade:

 

Agem cartéis do tráfico sexual,

Espoliam no trabalho manual;

Ladrões de produtos primários,

E dos ricos ramos imobiliários.

 

É silenciada extorsão na terra,

A fábrica absurda para guerra;

Um bandidismo nos contratos,

E ação disfarçada de sindicatos.

 

Mais do que droga na periferia,

E em negócios de maquinaria,

A superfaturação em negócios,

Produz muitos crimes néscios.

 

A lavagem de dinheiro ilegal,

Com renda polpuda e triunfal,

Gesta oligarquias de interesse,

A locupletar próprio benesse.

 

A virose do crime organizado,

Circula, suave, por todo lado,

Mesclada com a lei do Estado,

E astúcia no brique disfarçado.

 

Nas fendas da vasta legislação,

Captam evasiva de justificação,

Para ato ilícito, tido por normal,

E praticam a corrupção oficial.

 

Nos meandros das fragilidades,

Vivem as suas arbitrariedades,

Em que a política legal e ilegal,

Aufere um rendimento colossal.

 

Toleram os ritos de corrupção,

E se aproveitam da informação,

Para super-salário bombástico,

Longe do elogio encomiástico.

 

Atores criminais multifacetados,

Encontráveis por todos os lados,

Incorporam a sua ação política,

Na ação da polícia, sem crítica.

 

Exploram o populismo punitivo,

Para matar todo ladrão fugitivo,

E exercer comando de mão dura,

Para necessária e justa ditadura.

 

O próprio discurso democrático,

Bem eivado de interesse errático,

Enseja aporte a crime organizado,

No mimetismo do bem propalado.

 

Quando narco é só um dos crimes,

Outros, ocultos parecem sublimes,

Na legitimação de ação benfazeja,

Que a mídia tanto elogia e corteja.

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O TOCO VELHO

 


Fruto de um tronco decepado,

Está ali na eira, todo esfalfado,

Sem a memória da mutilação,

E, mudo na grandiosa função.

 

Impregnou corpo majestoso,

Elegante, forte e todo vistoso,

Solidário com o seu contorno,

Auferia sombra e belo adorno.

 

Longa história de vida efusiva,

Na virtualidade comunicativa,

Soltava sentido e razão de vida,

E captava boa lida enternecida.

 

Esfalfou sua casca com tombos,

De outros troncos com rombos,

Que caíram em estrondos fortes,

Sem amparo de firmes suportes.

 

Vitimadas pela ambição humana,

Em sua agressividade doidivana,

Árvores da tão pródiga natureza,

Esmorecem golpeadas na dureza.

 

Da exploração da madeira nobre,

Permaneceu apenas o toco pobre,

Eivado pelas cinzas causticantes,

Das cruéis queimadas rasantes.

 

O toco velho está ali silenciado,

E seu coração bem dilacerado,

Ainda suga do subsolo dadivoso,

A seiva para recomeço exitoso:

 

Pequeno broto emerge da raiz,

E teimosamente fecha a cicatriz,

Para sobreviver mesmo solitário,

E anelar por sonho comunitário.

 

Vitimado pela serra e machado,

Sente-se todo dia importunado,

Pelos xixis uréicos de cachorros,

E o desdém de larápios gatorros.

 

Já não atrai atenções afetuosas,

Nem o amor de lidas carinhosas,

E, sem a memória da fase vivida,

Não encontra interação querida.

 

Já não é mais árvore imponente,

Com seu histórico proeminente,

Da seiva tirada do solo profundo,

E elevada ao ornamento fecundo.

 

 

Já não acolhe pássaros e insetos,

Nem enseja olhares circunspetos,

Pois foi precocemente silenciada,

E teima para não ser postergada.

 

Distante de receber bons abraços,

E seu corpo sem oferecer regaços,

Resta-lhe só a solitária resistência,

No desprezo da sua benemerência.

 

Seu coração, outrora tão sensível,

Agora na apatia de feição sofrível,

Reflete a dureza do agir humano,

A produzir seu próprio desengano.

 

Derradeiro clamor do velho toco,

Contra doentio e obcecado foco,

Grita pela interação de mais vida,

Cegamente pisoteada e esquecida.

 

Crescera amparado e escorado,

Num solidário espaço acostado,

Da floresta cheia de vitalidade,

Com nutrientes para saciedade.

 

Agora, já isolado e desamparado,

Sem voz a falar do exitoso legado,

Fala, apenas, sob o silêncio triste,

Que integra vida que ainda existe.

 

 

 

JOÃO - UM PROFETA DA EIRA

 

 

Advindo de uma beira social,

Da realeza, apenas marginal,

Interpretou sofrido contexto,

Vítima do religioso pretexto.

 

Sua marca original e genuína,

Criticou mazela da triste sina,

Dos fiéis auto-atribuídos bons,

Estabelecidos em ilusórios tons.

 

Interpretavam-se os superiores,

Privilegiados de divinos favores,

Pelo seu código ético-religioso,

Orgulho dum povo prodigioso.

 

Pelos seus frutos de vida real,

Revelavam contradição fulcral,

Pois viviam da baixeza humana,

Da espoliação e guerra insana.

 

Crença religiosa, apenas formal,

Articulava estrutura institucional,

Que em nome do mero legalismo,

Organizava a fé em cruel cinismo:

 

 

A riqueza da injusta acumulação,

Atribuída a uma divina atribuição,

Justificava uma elite privilegiada,

E garantia sua posição aquilatada.

 

Pobres espoliados, na eira da voz,

Ficavam passivos ante ação algoz,

Do poder político-religioso devasso,

De fruto social pifiamente escasso.

 

João Batista, sujeito simples e reto,

Pobre, mas de um espírito inquieto,

Não desejava riqueza com honraria,

Mas, na vida humana uma melhoria.

 

A sociedade injusta e empedernida,

Sustentada na imagem construída,

Orgulhava-se de ter Deus presente,

Como o parceiro de ação eficiente.

 

Mesmo suposta morada no templo,

Deus não constituía bom exemplo,

Porque estimulava o ódio da guerra,

E toda perversidade que ela encerra.

 

Era o Deus dos privilégios de ricos,

A justificar a pobreza dos nanicos,

E culpa-los por degradada situação,

Bem merecida pela sua ingratidão.

 

Na diagnose do disparate social,

 João Batista intuiu a ação de ira,

De Deus ante tamanha mentira:

 

Estaria na eira para uma limpeza,

Desta legalista e aparente pureza,

Da religião dum controle austero,

Nesta vida sob um regime severo.

 

Nesta ótica a fala de João Batista,

Pressupunha uma necessária vista:

Conversão para outra convivência,

Sem aquela Lei e religiosa vigência.

 

Batismo como sinal de conversão,

Seria carimbo para apontar reação,

À injusta realidade de vida vigente,

Que deixava pequena elite contente.

 

Desagradou tanto os pobres passivos,

Quanto os ricos, em fitos defensivos,

Embora, sem visar poder e conquista,

Representava uma subversão malvista.

 

Silenciado pela vingativa decapitação,

Sua voz causou a estupenda irritação,

Mas, tornou-se novo caminho aberto,

Para acolher Jesus em projeto liberto.

 

Não confirmou nenhum Deus vingativo,

Mas, o Deus bom de auspicioso lenitivo,

Para fazer irromper Reino diferenciado,

Sem o pobre explorado e rico dourado.

 

 

 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

ANELOS DE SONHOS

 


Dentre os sonhos mais aquilatados,

O de viver dias menos atribulados,

Com certeza, joga as expectativas,

Rumo das inusitadas alternativas:

 

A começar, pelas insensibilidades,

Que gestam na vida as inimizades,

E que levam aos ódios cultivados,

Para gestar mortes e deportados.

 

Harmonia na humana convivência,

Plena de injustiça e de indecência,

Requer a interrupção da maldade,

Para amor gestar a reciprocidade.

 

Lugar daqueles ódios que matam,

Forças de paz que não maltratam,

Poderiam fundir arma destruidora,

Em meio eficaz de ação redentora.

 

Se bela árvore da boa convivência,

Há milênios cortada pela violência,

Ainda conserva um ínfimo de vida,

Poderá ostentar broto de nova lida.

 

Intuição virtual para a docilidade,

Poderia impregnar na autoridade,

A promulgação de legislação justa,

Para menos opressão de lei injusta.

 

Nesta esperança, direitos negados,

Já, publicamente reinterpretados,

Proscrita a discórdia e preconceito,

Daria vazão livre à paz e ao respeito.

 

Eliminaria a divisão de pobre e rico,

E o assunto para o cotidiano fuxico,

Na religião meramente prescritiva,

Sem apresentar agregação positiva.

 

Caridade como central na educação,

 Agiria no lugar nobre do alto escalão,

Para menos ambição e mais partilha,

Sem o armamentismo e a guerrilha.

 

Com a noção de povo e de pertença,

Não existiria uma elite de diferença,

Mas, consenso sinodal de bom-senso,

Para privilegiar convívio mais intenso.

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

IDEOLOGIA CLERICALISTA

 


Aspirante à grandeza principesca,

Suporta toda a rigidez militaresca,

Para assentar-se no trono do altar,

E emitir poder do ego a se dilatar.

 

Não almeja o chão sujo do pobre,

Mas, altivez da condição de nobre,

A fazer brilhar sua coroa da moral,

Com soberania da postura triunfal.

 

Educado para avivar a autoridade,

Da suposta fonte de superioridade,

Sabe que, situado acima dos leigos,

Deve ser vigia para deixá-los meigos.

 

Sente que seu papel muito superior,

Deve alertar o vasto mundo inferior,

A respeito da sua frágil moralidade,

Que envenena toda boa sociedade.

 

Armadura conceptual da sua mente,

Impede eivar-se do mundo carente,

Pois, grandeza das noções absolutas,

Permite nado em verdades impolutas.

 

Sabe que o recurso do pano colorido,

Personalizado e com babado enxerido,

Lhe aufere na eminência fascinadora,

Um brilho para emoção encantadora.

 

O foco atrativo atrai farta bajulação,

E sabe explorá-la como fino aluvião,

Para ser o cativante pela imagética,

Sem requer qualquer postura ética.

 

Enxerga do alto a fragilidade alheia,

Só não a de ricos que oferecem ceia,

E lhe dão as dicas sobre seu discurso,

Para um exitoso e brilhante excurso.

 

Como o pavão de rabo todo eriçado,

Seu canto desafinado com o legado,

Já não impressiona pobres mortais,

Mas, como cobra astuta pica rivais.

 

Vive obcecado pela sua referência,

E se situa no âmbito da excelência,

De quem tem fartura a doutrinar,

E nada do Evangelho a alimentar.

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

RELIGIÃO COLONIZADA

 


Rigidamente atrelada ao sistema,

A religião, sob seu novo emblema,

Faz parte da produção utilitarista,

Para a promoção sensacionalista.

 

Colonizada e vitrine de exibição,

Agrega para o cultivo da emoção,

E, na lógica da atrativa utilidade,

Oferece emoção para a saciedade.

 

Sem a antiga função de agregar,

Para comprometer e se dilatar,

Sem discípulos e compromissos,

Fita evidências, sem os serviços.

 

A participação em celebrações,

Ou, nas religiosas promoções,

Rende prestígio e a visibilidade,

Com uma avantajada idoneidade.

 

Conta o festivo passo simbólico,

Sob o desfile vistoso e bucólico,

Sem perspectiva de conversão,

Mas, para uma gostosa emoção.

 

Possível encontro de formação,

Distante de qualquer conversão,

Vale só pelos rituais simbólicos,

Sem gestar horizontes católicos.

 

Assim, o vínculo com o sagrado,

Visa espetáculo de bom agrado,

E suposto compromisso se dilui,

Só no encantamento que se frui.

 

Ante nova mercadoria espiritual,

Atrativa, confortável e superficial,

Flexibilidade é condição sedutora,

Para atrair a presença devoradora.

 

Um ponto de agregação religiosa,

Atrai presença de pessoa curiosa,

E a prende só pela conveniência,

De bem-estar daquela experiência.

 

Sem a básica função socializadora,

A religião duma venda promissora,

Se torna descartável e dispensada,

Para procurar outra mais elogiada.

 

Emerge, pois, religião da apoteose,

Feita somente mera metamorfose,

Para sugerir absorção de consumo,

Sem construção de um novo rumo.

 

 

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  Quando as imagens sobrepostas, Numa alta velocidade de apostas, Prende no enxergar e ouvir ordens, O psiquismo só fornece desorden...