domingo, 8 de novembro de 2020

SINODALIDADE

 


1 – A palavra SINODALIDADE

          Surgiu no contexto de 1950 como movimento teológico de atualização e renovação (“aggiornamento”) no interior da Igreja, contra o autoritarismo e o totalitarismo, tão marcantes nas duas guerras mundiais. Foi um belo processo que culminou no Concílio Vaticano II.

             Sínodo - Sýn (com) + Hodós (caminho) – significa “caminhar juntos”. Os primeiros cristãos eram chamados de “discípulos do caminho” (de Jesus), porque percorriam juntos o caminho de Jesus.

            Sinodalidade, para nós, hoje, equivale ao convite à participação e comunhão em vista da missão (algo que é da raiz e da natureza da Igreja).

2 -  Sinodalidade – desafio e novidade 

            O desafio do Papa para nós cristãos está num quadro um pouco diferente da época do concílio Vaticano II: governar e fazer acontecer a missionariedade da Igreja numa cultura democrática que está em profunda crise (globalização). Nesta crise volta a tentação de um perigoso tradicionalismo católico e de um jeito de governança autoritária.

            Pouca gente vê soluções na democracia e no autoritarismo. Sob este quadro, o apelo do Papa Francisco é o de ampliar a experiência de sinodalidade e colegialidade (tanto para governar, quanto para fazer acontecer a proposta do Reino apresentada por Jesus Cristo), porque o grande perigo está na governança de homens ditadores e fortes.

            Sinodalidade é, por conseguinte, um caminho alternativo ao da governança autoritária, tecnocrática e clerical e, até mesmo para evitar o “positivismo papal” (de que é infalível e que manda sozinho).

3 – Sinodalidade – um processo em andamento 

            Está previsto para outubro de 2022 um Sínodo sobre a SINODALIDADE. Já está acontecendo uma valiosa preparação, especialmente na Alemanha, Austrália e Estados Unidos. Também estão aparecendo algumas dificuldades, como a do isolamento devido a pandemia e a resistência de partes da Igreja (até mesmo no Vaticano). Por exemplo, enquanto o Papa insiste na sinodalidade, a Congregação emitiu, no mês de julho passado, a “Instrução sobre a Pastoral da Comunidade Paroquial, e reafirmou o modelo tradicional do padre monocêntrico.

            O alargamento da sinodalidade está aumentando a partir de algumas etapas: a) De 2013 a 2015: aconteceu o sínodo da Família e do casamento; b) Em 2016 ocorreu forte reação de tradicionalistas à Exortação AMORIS LAETITIA; c) Logo em seguida, em 2018, o Papa publicou a Constituição Apostólica Episcopalis Communio; d) Atualmente, aparecem alguns receios de que a sinodalidade seja encampada pelo clericalismo e passe a ser mera espécie de funcionalismo parlamentar.

4 – Ameaças a uma boa sinodalidade 

          Um primeiro risco é o do achatamento da Igreja, isto é, alguns ensinam e, todo o resto, apenas escuta passivamente.

            Outro risco é o da má interpretação da sensibilidade e das intuições da fé cristã (SENSUS FIDEI) a partir da noção do que uma pessoa pensa e faz; ou, do que um grupo fanático e fechado vive, como sendo a Revelação, mas, sem a Sagrada Escritura e sem a Tradição (apenas tradições mais recentes pouco vinculadas às origens).

            Um terceiro risco é o de ajustar o modo de ser da Igreja com a atual cultura democrática em crise; e, nesta surge o encantamento pelo tradicionalismo que já foi muito negativo na Igreja antimoderna e antiliberal.

5 – Apostas do Papa Francisco 

            - Promover liderança sinodal e colegial ante o avanço de ditadores e homens fortes;

       - Fazer acontecer política de governança na Igreja que não tenha as marcas da tecnocracia, autoritarismo e clericalismo;

            - Ampliar a capacidade de conciliação contra a tentação da comunhão fechada;

            - Que a sinodalidade, tão bem iniciada com o Concílio, dê, agora, um salto de qualidade, com muitas energias e formas que ampliem o depósito da fé;

            - Que a sinodalidade, esta riqueza da eclesiologia do Vaticano II, aconteça não apenas entre Bispos, mas, nos variados organismos de comunhão, nas Províncias Eclesiásticas (Ex. aqui, em toda a Igreja do Estado do Paraná) e em todas as conferências episcopais.

            Resulta disso a convocação para que a Igreja seja toda ela ministerial, através da recuperação do sentido do batismo cristão; e, para que as atividades sejam de serviço e não de poder. Mais do que ensinar doutrina, todos os membros da Igreja precisam discernir e colocar-se na escuta da vontade de Deus para perceber a sua vontade e as interpelações em favor de mais vida e mais qualidade de vida.

6 – Implicações da Sinodalidade 

            Que todos os membros do Povo de Deus se sintam convidados à prática sinodal. Isso requer “conversão do coração e do olhar” a fim de que a Igreja possa crescer num estilo de lidas que, progressivamente, se aproxime mais do Evangelho e da tarefa evangelizadora da Igreja.

            Deste modo, sinodalidade significa compromisso de tornar presente e operante o fermento, o sal e a luz do Evangelho, na organização da vida do nosso tempo. Afinal, como falar em “Povo de Deus” se ele é apenas passivo e segue à ordem de poucos ministros, e, quando alguns destes resistem radicalmente ao grande apelo do Papa?

            A maior dificuldade para uma atividade sinodal na Igreja vem do fato de que muitos dos seus dirigentes, tanto leigos quanto clérigos, nunca aprenderam a conduzir seu serviço de evangelização na dimensão da colegialidade e da sinodalidade. Vivem a tentação de se aferrar no tradicionalismo (sob alegação de que sempre foi assim para reafirmar seu poder).

            Não dá para separar Sinodalidade e Colegialidade. Está em jogo uma visão de Igreja: ela deve abrir-se para a inclusão e todos os batizados são chamados a serem “discípulos missionários”.

7 – Ser Igreja na crise da democracia

            Como a sinodalidade atualiza as raízes do evento Jesus Cristo, não pode ficar inerte ou inativa na crise da democracia. Neste momento histórico, a Igreja pode ser altamente profética, começando com um novo modelo de governança, não de um partido, mas de sinodalidade que rompe com o modelo político institucional de cristandade da própria Igreja.

            A crise da democracia afeta muito o agir da Igreja católica sob diversos aspectos:

a)     Diminui a participação política e os quadros políticos são ocupados por grupos interesseiros e, com interferências estrangeiras (Ex.: Fake-News);

b)     Leva à não participação na comunidade cristã;

c)      Também as estruturas da Igreja vão se enfraquecendo e até muitos cristãos tomam rumos contrários às finalidades das ordens religiosas, das associações e dos movimentos. Assim surgem grupos independentes de todo tipo de gosto que não somam com a Igreja;

d)     A crise da confiança nas instituições afeta também as paróquias e dioceses: nem sempre as decisões respeitam a dignidade batismal de todos os batizados. Assim, a “água da governança na Igreja, anda bastante poluída” (leigos, padres, bispos e até cardeais desrespeitam o Papa para justificar sua opinião ou seu interesse pessoal).

e)     Tendências fundamentalistas consideram como bom povo católico somente quem é fiel à tradição, mas sem referência às fontes do Evangelho e das suas interpelações.

 

Sinodalidade deve ser um modo católico de lidar com a crise atual de democracia (com muito partidarismo e mínima capacidade de debate político a respeito do que é mais importante para o povo).

Sinodalidade também implica em discernimento para não controlar outros através de ordens categóricas. (Imaginem se o Papa agisse como Trump ou tantos outros tiranos!).

Já tivemos um belíssimo exemplo de sinodalidade: o Sínodo da Amazônia: mostrou uma Igreja missionária, participativa, acolhedora e de harmonização das diferenças. Ali foi reconhecido o lugar dos fiéis nas decisões e na governança.

Enfim, não se trata de pensar Igreja democrática tipo parlamento, nem de Igreja monárquica, mas, de Igreja de Comunhão.

 

 

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