No
clima pós-pascal torna-se oportuno lembrar o dinamismo das comunidades
emergentes em torno do modo de ser de Jesus Cristo. A impressão é a de que não
se identificaram com um Jesus mirabolante, poderoso, arrasador, mas, muito mais
com aquele que se revelou justo, servidor e santo.
A proposta
de Jesus evidenciou-se aos discípulos como muito mais ampla do que a da antiga
Lei; seu profetismo foi notavelmente distinto do profetismo antigo que teve a
peculiaridade de intimidar com pressupostos de vingança por parte de Deus; a
forma de Jesus rezar também se mostrou diametralmente distinta das orações dos
salmistas. Por outro lado, a forma como Jesus sofreu e lidou com a violência
que o levou à morte de Cruz, deixou explícita uma imagem totalmente inusitada e
distinta do amor de Deus.
Se para os
primeiros cristãos não foi fácil assimilar que a grandeza do amor de Deus tenha
passado pela morte e ressurreição de Jesus, aparentemente um fato humilhante e
que sequer correspondia à expectativa messiânica nacionalista, foram, contudo,
capazes de descobrir bem outra dimensão, para a qual não haviam estado atentos:
um messias humilde e não prepotente, enfim, alguém que se assemelhava muito
mais ao servo sofredor dos poemas de Isaías do que a um espalhafatoso
visionário de política nacionalista.
Na humilde
capacidade de reler os acontecimentos e, diante dos dados bíblicos que já
conheciam, redescobriram a notável riqueza da mensagem do que Jesus falara, bem
como do que tinha dado testemunho.
Na importante
síntese que permitiu entrever o “novo” que Jesus representava em relação aos
dados bíblicos do primeiro testamento, souberam os primeiros cristãos
alegrar-se com a “boa novidade” que Jesus representava para sua vida e seus
projetos.
Em nossos
dias, temos pela frente a necessidade de refazer uma contextualização similar à
dos primeiros cristãos: em contextos culturais muito distintos, cabe-nos reler
o acontecimento Jesus Cristo, a fim de tornar-nos capazes de expressá-lo na
linguagem de nossos dias. Afinal, pode seu jeito e sua postura ainda constituir
caminho que salva? Com certeza, desde que saibamos fazer algo parecido com o
que os primeiros cristãos fizeram. Isto requer um procedimento muito distinto
daquele dos dogmatismos categóricos criados muito tempo depois.
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