quarta-feira, 22 de abril de 2015

Entre lobos e mercenários



            A satisfação de visualizar seguidamente lobos guarás andando nas beiras de estrada, esbeltos, não permite associá-los ao imaginário cultural de serem maus. Pelo simples fato de gostarem das mesmas aves que nós apreciamos em nossas iguarias alimentares, passaram a ser rotulados de maus, e, por isso mesmo, merecedores de perseguição e de morte.
            Quanto aos mercenários, desde os flibusteiros das antigas histórias de guerra, passando por todos os avanços culturais e de educação humanizadora, causa perplexidade que tantas pessoas que enganem com suas conversas, e fazem o avesso do que, supostamente, proclamam fazer. Em nossos dias, certamente nada indigna tanto, quanto ouvir todos os dias, informações sobre a extensão e o volume do que se rouba e se espolia escancaradamente a nível nacional e mundial.
            Se os desejos levam ao avesso das regras de honestidade, de respeito e de dignidade, talvez mais do que discursos religiosos e políticos, faz-se necessária alguma intuição que leve a lidar de maneira nova com os desejos. A massiva insinuação em torno do alargamento dos desejos leva a uma obsessão quase infinita pelo aumento de posses de bens materiais e simbólicos. Estaria este caminho alargando a vida que a maioria humana almeja? Onde está, então, o efeito dos proclamados discursos de democracia e do papel do Estado e o de tantas instituições tradicionais?
            Quando o evangelista São João (10,11-18) apresentou Jesus Cristo como bom pastor, certamente quis dar a entender que seus seguidores deveriam, também, como ele, assimilar suas características no modo de agir em favor dos outros. Do seu peculiar jeito de ser, salientou-se como proeminente a amizade e as atitudes que efetivamente levam a alargar o bem-estar dos outros.
 Enquanto o benefício próprio, - como o prestígio e a ascensão política, - está na motivação central do agir, bem sabemos do resultado que causa: não conduz a nenhum redil seguro e, muito menos, nada protege na hora da crise. Bem pelo contrário, muito mercenário vale-se precisamente desta hora, para alargar miséria e sofrimento, através dos atalhos das regras sociais, a fim de saquear, - não para matar a fome como os lobos, - mas, para empanturrar-se, e saltar o muro para procurar outros lugares de desfrute.
A possibilidade de um rebanho universal de boa convivência, conduzido historicamente para “melhores pastagens”, provavelmente não se viabilizará no itinerário dos mercenários. Enquanto os lobos são eliminados, os mercenários proliferam como praga devastadora.


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