sexta-feira, 10 de abril de 2015

Em tempos do "Homo consumens"



A forte marca cultural do consumismo de nossos dias exerce uma força extraordinária para persuadir cada vez mais pessoas a aumentarem seu potencial de compradoras de produtos. É uma pressão mundial de um modelo de economia, construído sob a condição de que se consuma mais, para gerar lucros e renda. Este pressuposto requer duas condições; que não se diminua o consumo obcecado; e que o produto adquirido dure pouco.
A simples suposição de algo muito forte, durável e resistente, levaria a consumir menos. Por isso, junto com o consumo, também estão envolvidas duas outras situações: a de ficar feliz com o que se adquire; e a de mudar constantemente para conseguir alcançar mais felicidade. Nesta maleabilidade, que Zygmund Baumann chama de “sociedade líquida”, o central da vida passa a ser o provisório e a constante adaptação à moda e à publicidade. Ao lado desta força, há uma ocultação dos problemas reais decorrentes das diferenciações sociais, econômicas e culturais, porque todos são considerados iguais para obter felicidade: basta que aumentem o consumo!
A lógica do que se faz, com os produtos a serem adquiridos e consumidos, acaba afetando, do mesmo modo, as relações humanas e familiares. Quer-se demonstração do que o produto faz e do que produz em termos de felicidade e de praticidade de uso. Assim, além da provisoriedade do “ficar”, motivado pela condição de propiciar felicidade, a não produção da aludida felicidade, leva à descartabilidade.
Basta que alguém declare amar uma pessoa, que a outra, já exige provas e experimentação. A prometida felicidade, no entanto, parece se deslocar imediatamente para um novo foco de consumo. Assim, desmoronam os tradicionais valores da estabilidade, da lealdade e da fidelidade para longos prazos. Na condição de que qualquer objeto deva ser usado e rapidamente descartado, algo similar já se efetua nas relações humanas e de fé religiosa. Nada escapa deste determinismo cruel.

Seja na oração, ou nas mil modalidades de súplica, aumenta, de forma assustadora, o número de crentes que estabelecem uma condição até mesmo para Deus: que Ele dê demonstração de sinais do que é capaz de fazer. Deste modo, o que Jesus falou e fez, bem como o que sugeriu para uma efetiva felicidade num projeto de construção positiva da vida, já não é mais levado em conta. No migracionismo constante entre formas e modos religiosos, mais do que em outros momentos históricos, vive-se a dificuldade da segunda geração dos seguidores de Jesus Cristo: como Tomé, até se promete crer, mas, desde que Deus apresente primeiro as convincentes provas de felicidade. Acolher sua Palavra com vistas a vivenciá-la, e, - alargar os níveis de felicidade, - parece demorar demais. Já não cabe na provisoriedade do “ficar”, até com Ele.

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