A forte marca cultural do consumismo
de nossos dias exerce uma força extraordinária para persuadir cada vez mais
pessoas a aumentarem seu potencial de compradoras de produtos. É uma pressão
mundial de um modelo de economia, construído sob a condição de que se consuma
mais, para gerar lucros e renda. Este pressuposto requer duas condições; que
não se diminua o consumo obcecado; e que o produto adquirido dure pouco.
A simples suposição de algo muito
forte, durável e resistente, levaria a consumir menos. Por isso, junto com o
consumo, também estão envolvidas duas outras situações: a de ficar feliz com o
que se adquire; e a de mudar constantemente para conseguir alcançar mais
felicidade. Nesta maleabilidade, que Zygmund Baumann chama de “sociedade
líquida”, o central da vida passa a ser o provisório e a constante adaptação à
moda e à publicidade. Ao lado desta força, há uma ocultação dos problemas reais
decorrentes das diferenciações sociais, econômicas e culturais, porque todos são
considerados iguais para obter felicidade: basta que aumentem o consumo!
A lógica do que se faz, com os
produtos a serem adquiridos e consumidos, acaba afetando, do mesmo modo, as
relações humanas e familiares. Quer-se demonstração do que o produto faz e do
que produz em termos de felicidade e de praticidade de uso. Assim, além da
provisoriedade do “ficar”, motivado pela condição de propiciar felicidade, a
não produção da aludida felicidade, leva à descartabilidade.
Basta que alguém declare amar uma pessoa,
que a outra, já exige provas e experimentação. A prometida felicidade, no
entanto, parece se deslocar imediatamente para um novo foco de consumo. Assim,
desmoronam os tradicionais valores da estabilidade, da lealdade e da fidelidade
para longos prazos. Na condição de que qualquer objeto deva ser usado e
rapidamente descartado, algo similar já se efetua nas relações humanas e de fé
religiosa. Nada escapa deste determinismo cruel.
Seja na oração, ou nas mil
modalidades de súplica, aumenta, de forma assustadora, o número de crentes que
estabelecem uma condição até mesmo para Deus: que Ele dê demonstração de sinais
do que é capaz de fazer. Deste modo, o que Jesus falou e fez, bem como o que
sugeriu para uma efetiva felicidade num projeto de construção positiva da vida,
já não é mais levado em conta. No migracionismo constante entre formas e modos
religiosos, mais do que em outros momentos históricos, vive-se a dificuldade da
segunda geração dos seguidores de Jesus Cristo: como Tomé, até se promete crer,
mas, desde que Deus apresente primeiro as convincentes provas de felicidade.
Acolher sua Palavra com vistas a vivenciá-la, e, - alargar os níveis de
felicidade, - parece demorar demais. Já não cabe na provisoriedade do “ficar”,
até com Ele.
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