quarta-feira, 18 de março de 2015

Retidão e honestidade



            Um dos assuntos mais falados e comentados dos últimos meses é, certamente, o do impacto da corrupção e da desonestidade de pessoas que dizem trabalhar para o bem do povo.
            Numa afronta à legislação e num desrespeito profundo aos direitos auferidos ao povo, iguais a todas as pessoas deste país, a ambição desmesurada de parte deste povo, deixa a outra grande maioria das pessoas em situações muito precárias e difíceis.
            Se olharmos para a história do povo bíblico, vemos que algo similar se manifestou em diversos momentos. Basta lembrar os discursos dos profetas, sobretudo, nos períodos de monarquia. Na intuição destes profetas manifestava-se uma tônica e uma esperança comum: um olhar para além da crise e do momento desanimador, provocado pela desonestidade e falsidade ideológica de setores daquela sociedade.
Os profetas, ao mesmo tempo, reliam o passado e procuravam detectar as raízes causadoras do desequilíbrio social. Jeremias (31,31-34), por exemplo, num momento de crise aguda, apontava a misericórdia de Deus diante da quebra da antiga aliança estabelecida sobre o monte Sinai. As importantes regras éticas dos 10 mandamentos, já não produziam efeitos eficazes, e, tampouco, sensibilizavam as pessoas para a honestidade.
Jeremias passou a anunciar o desejo de Deus, disposto a uma nova aliança: teria que ser uma lei a mover o coração e as entranhas! A partir desta disposição interior, não haveria mais necessidade de moralização do outro e, nem de sua condenação por pecados cometidos. Em outras palavras, a intuição de Jeremias, apontava para além da imagem, da aparência e do disfarce de ser bom, o valor essencial do testemunho de vida. Entranhas e coração significam a profunda coerência para realmente testemunhar – mais do que falar – os valores religiosos.
Quando tantos pecados sociais refletem a falência das regras estabelecidas e, nos incitam a entrar no mesmo jogo, com a perspectiva das melhores vantagens pessoais, cabe um oportuno critério profético para além desta praxe. Um dos possíveis caminhos é o de aceitar os pecados que aconteceram, mas, predispor-se para assumir outros critérios mais coerentes.

Segundo o evangelista São João (12, 20-33), quando gregos foram a Jerusalém com o desejo de adorar Jesus Cristo, este mandou alguns discípulos informá-los de que seu discipulado implicava em angústia, em cruz e em morte, e, simultaneamente, lhes apontou que aquele momento presente constituía o julgamento, pois, na medida em que a maldade deste mundo fosse evadida, os envolvidos neste processo, seriam atraídos a Jesus Cristo. Por conseguinte, mais do que adorar um Jesus divino, convém acolher sua interpelação para um modo de ser reto e honesto, que mais se aproxima do seu modo de ser, e que será capaz de apontar um caminho que realmente salva.

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