quarta-feira, 25 de março de 2015

Entusiasmo passageiro



            O humor é afetado por muitas e imprevisíveis situações. Ora é surpreendido por quadros desagradáveis, ora por encantadoras surpresas. Em alguns momentos o humor alarga o melhor dos entusiasmos; já em outros, aponta melancólico desfecho de algo que parecia importante e valioso.
            O entusiasmo por algo novo, estável, melhor e mais duradouro, marca grandes momentos existenciais, geralmente celebrados com ritos de passagem e com as melhores promessas. Mesmo assim, certos momentos marcantes fenecem rapidamente, porque aparecem outros horizontes e possibilidades totalmente inéditas; ainda outros grandes pactos se fragilizam, com o tempo, por falta de atualização. Mesmo aqueles melhores entusiasmos que queremos tornar inesquecíveis, precisam ser reativados para continuar a nos encantar.
            O entusiasmo depende muito mais do que da vontade própria, do entorno dos ambientes sociais e coletivos e, facilmente, leva-nos a oscilar de uma perspectiva a outra: vai-se ao encontro de alguém para expressar alegria e amizade e volta-se frustrado; quer-se fazer um protesto pacífico e acaba-se em atos de violência; quer-se honrar a palavra dita, prometida e confirmada e, rapidamente, faz-se o avesso.
            A proximidade da celebração da Páscoa, culminada na grande passagem de Jesus, nos ativa a memória de como foi curto o entusiasmo dos que receberam Jesus na entrada de Jerusalém. Num momento, acolheram-no com os mais expressivos símbolos da alegria e do contentamento e, poucos dias depois, já se posicionaram do outro lado, e toleraram sua eliminação através de morte, pregado numa cruz. Os textos evangélicos salientam que, ao lado da efusiva acolhida, Jesus entrou na cidade montado num jumento.
Trata-se de um símbolo muito importante: reis, nobres, guerreiros e invasores entravam nas cidades montados em cavalos amestrados e velozes. Jamais alguém ousaria confrontar-se montado num jumento para guerrear contra alguém sobre um cavalo e, tampouco, alguém ousaria fazer guerra utilizando-se da montaria de jumentos, pois, são animais lerdos, embora fortes pelo seu tamanho.
A recordação deste episódio da semana que antecedeu a morte de Jesus Cristo, desperta a constatação de quão facilmente também nós esquecemos propósitos, pactos, promessas e solenes celebrações de procedimentos para o resto da vida, mas que, por razões as mais variadas, esfriaram, perderam elã e, de repente, passaram a ser vistos como um jugo insuportável ou como situação sem nenhum sentido e, por isso mesmo, foram relegados.
 Possa a nossa motivação despertada em torno da memória da Páscoa, reavivar o entusiasmo pelos bons sentimentos de passagem a fim estes voltem a apontar mais qualidade ao nosso oscilante mundo de entusiasmos e tornar mais estáveis as forças da ação solidária e da boa conservação do planeta.


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