As mui
antigas festas agrícolas de nômades do oriente médio, em torno do nascimento de
carneiros e de outros filhotes de animais que nasciam no início da primavera,
levavam à celebração festiva do fenômeno da vida que se renovava. Quase
paralelamente, a incipiente agricultura, levava também, na colheita dos
primeiros grãos, a celebrações festivas parecidas, pois, também evidenciava a
certeza de uma esperança: teriam comida para mais um ano.
A
possibilidade de olhar para frente com esta certeza, constituía, sem dúvida, um
clima de exuberância na lida cotidiana, capaz de dar sentido a uma festividade:
uma alegria interior e partilhada, permitia lembrar o passado e recriava
motivações boas para captar as grandezas de Deus, nestes ciclos de renovação da
vida, e motivava continuidade na dura lida para que o ciclo da produção de
alimentos e da renovação da vida pudesse perpetuar-se.
Estas festas
espontâneas do sentimento religioso despertaram uma tradição que perpassou
muitíssimos séculos e que, de repente, foram alargadas com mais um significado:
uma experiência da ajuda explícita de Deus para a formação do povo de Israel,
porque diversas tribos escravizadas no Egito conseguiram organizar-se e fugir
daquela condição humilhante e sentiram participação efetiva de Deus. Foi um
percurso dramático, difícil e muito sofrido, mas, simultaneamente, amadureceu a
consciência de pertença e a elevação do sentimento religioso, que culminou num
grande pacto no alto de uma montanha: a aliança de dez regras para se entenderem,
se respeitarem e continuarem no privilégio da proximidade de Deus.
Junto com os
antigos sinais de carnes e grãos, a memória da saída do Egito levava os filhos
de judeus a reler os textos que narravam o surgimento da constituição do povo
de Israel, e, tal memória, despertava um clima de muita alegria, celebrada como
passagem, que apontava novas e boas motivações para viver com mais intensidade
o sentido dos dez mandamentos.
Da memória
dos acontecimentos da semana derradeira da vida de Jesus Cristo, morto,
precisamente quando se celebrava com grande fervor religioso a festa da Páscoa,
nós cristãos passamos a assimilar uma quarta razão de sentido para esta antiga
festa: ao lado da memória das tradições ancestrais do povo da Bíblia,
recordamos uma manifestação ainda mais expressiva da parte de Deus, pois, na
vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus manifestou estima e
misericórdia profunda à condição humana toda.
Ao lado das
passagens dos ciclos de vida, que se renovam com a natureza, e, da passagem do
povo através do deserto na fuga do Egito, lembramos também a passagem de Jesus
Cristo na condição humana e nos damos conta da nossa passagem pela vida. Por
isso, na memória da culminância do amor de Deus, explicitada em Jesus Cristo,
não só renovamos nossas esperanças de transcendência, mas, também integramos o
sentido da cruz, do sofrimento e da causa maior que se antecipa na esperança:
como Jesus se transcendeu ao longo da sua vida, esperamos aproximar-nos do seu
itinerário, na certeza de que o amor de Deus nos redime. Por isso celebramos
“Feliz Páscoa”!
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