sábado, 28 de março de 2015

Mais uma vez Páscoa!



            As mui antigas festas agrícolas de nômades do oriente médio, em torno do nascimento de carneiros e de outros filhotes de animais que nasciam no início da primavera, levavam à celebração festiva do fenômeno da vida que se renovava. Quase paralelamente, a incipiente agricultura, levava também, na colheita dos primeiros grãos, a celebrações festivas parecidas, pois, também evidenciava a certeza de uma esperança: teriam comida para mais um ano.
            A possibilidade de olhar para frente com esta certeza, constituía, sem dúvida, um clima de exuberância na lida cotidiana, capaz de dar sentido a uma festividade: uma alegria interior e partilhada, permitia lembrar o passado e recriava motivações boas para captar as grandezas de Deus, nestes ciclos de renovação da vida, e motivava continuidade na dura lida para que o ciclo da produção de alimentos e da renovação da vida pudesse perpetuar-se.
            Estas festas espontâneas do sentimento religioso despertaram uma tradição que perpassou muitíssimos séculos e que, de repente, foram alargadas com mais um significado: uma experiência da ajuda explícita de Deus para a formação do povo de Israel, porque diversas tribos escravizadas no Egito conseguiram organizar-se e fugir daquela condição humilhante e sentiram participação efetiva de Deus. Foi um percurso dramático, difícil e muito sofrido, mas, simultaneamente, amadureceu a consciência de pertença e a elevação do sentimento religioso, que culminou num grande pacto no alto de uma montanha: a aliança de dez regras para se entenderem, se respeitarem e continuarem no privilégio da proximidade de Deus.
            Junto com os antigos sinais de carnes e grãos, a memória da saída do Egito levava os filhos de judeus a reler os textos que narravam o surgimento da constituição do povo de Israel, e, tal memória, despertava um clima de muita alegria, celebrada como passagem, que apontava novas e boas motivações para viver com mais intensidade o sentido dos dez mandamentos.
            Da memória dos acontecimentos da semana derradeira da vida de Jesus Cristo, morto, precisamente quando se celebrava com grande fervor religioso a festa da Páscoa, nós cristãos passamos a assimilar uma quarta razão de sentido para esta antiga festa: ao lado da memória das tradições ancestrais do povo da Bíblia, recordamos uma manifestação ainda mais expressiva da parte de Deus, pois, na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus manifestou estima e misericórdia profunda à condição humana toda.
            Ao lado das passagens dos ciclos de vida, que se renovam com a natureza, e, da passagem do povo através do deserto na fuga do Egito, lembramos também a passagem de Jesus Cristo na condição humana e nos damos conta da nossa passagem pela vida. Por isso, na memória da culminância do amor de Deus, explicitada em Jesus Cristo, não só renovamos nossas esperanças de transcendência, mas, também integramos o sentido da cruz, do sofrimento e da causa maior que se antecipa na esperança: como Jesus se transcendeu ao longo da sua vida, esperamos aproximar-nos do seu itinerário, na certeza de que o amor de Deus nos redime. Por isso celebramos “Feliz Páscoa”!


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