segunda-feira, 14 de junho de 2021

MORTE

 


Oh, exigente consorte,

O teu estranho aporte,

Preconiza a evidência,

Desta frágil imanência.

 

Inseguro ante o tempo,

Todo meu passatempo,

Acalanta belos sonhos,

E alarga medos bisonhos.

 

Na fé sem as garantias,

As elucubrações vazias,

De explicações vulgares,

Não indicam patamares.

 

Resta discreta confiança,

Desta assegurada fiança,

Merecedora da entrega,

Que a minha fé carrega.

 

Duramente privatizada,

E ao mercado atrelada,

A morte virou mercado,

A ser bem consumado.

 

Tornou-se bom objeto,

Da indústria do dejeto,

Que dela extrai o lucro,

Adorado dinheiro sacro.

 

Já não é do moribundo,

Ou do familiar sitibundo,

Mas do grupo organizado,

Que assume o seu legado.

 

A gentileza das funerárias,

Nas investidas arbitrárias,

Oferece os bons pacotes,

Para os sorrateiros botes.

 

O luto sem o seu espaço,

Ocupado por novo regaço,

Sem diálogo com a morte,

Desloca-se a rápido norte.

 

Frases vagas na rede social,

Aludem sobre valor adagial,

Elogiando este corpo inerte,

E contornam o agir suverte.

 

Na canonização do morto,

Produz-se um desconforto,

Com bajulação tão vulgar,

Para aparências promulgar.

 

Alguns avivam na saudade,

A imagem da reciprocidade,

Para lembrar longo tempo,

Enternecido no entretempo.

 

Outros lembram o falecido,

Sem sequer tê-lo conhecido,

Para externar aos familiares,

Alguns dissuadidos pesares.

 

Na onda de vasto consumo,

Importa um inusitado rumo,

Que prometa emoção forte,

Juvenil, com beleza e sorte.

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...