Oh, exigente consorte,
O teu estranho aporte,
Preconiza a evidência,
Desta frágil imanência.
Inseguro ante o tempo,
Todo meu passatempo,
Acalanta belos sonhos,
E alarga medos bisonhos.
Na fé sem as garantias,
As elucubrações vazias,
De explicações vulgares,
Não indicam patamares.
Resta discreta confiança,
Desta assegurada fiança,
Merecedora da entrega,
Que a minha fé carrega.
Duramente privatizada,
E ao mercado atrelada,
A morte virou mercado,
A ser bem consumado.
Tornou-se bom objeto,
Da indústria do dejeto,
Que dela extrai o lucro,
Adorado dinheiro sacro.
Já não é do moribundo,
Ou do familiar sitibundo,
Mas do grupo organizado,
Que assume o seu legado.
A gentileza das funerárias,
Nas investidas arbitrárias,
Oferece os bons pacotes,
Para os sorrateiros botes.
O luto sem o seu espaço,
Ocupado por novo regaço,
Sem diálogo com a morte,
Desloca-se a rápido norte.
Frases vagas na rede social,
Aludem sobre valor adagial,
Elogiando este corpo inerte,
E contornam o agir suverte.
Na canonização do morto,
Produz-se um desconforto,
Com bajulação tão vulgar,
Para aparências promulgar.
Alguns avivam na saudade,
A imagem da reciprocidade,
Para lembrar longo tempo,
Enternecido no entretempo.
Outros lembram o falecido,
Sem sequer tê-lo conhecido,
Para externar aos familiares,
Alguns dissuadidos pesares.
Na onda de vasto consumo,
Importa um inusitado rumo,
Que prometa emoção forte,
Juvenil, com beleza e sorte.
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