Interpretações do agir
de Deus
· Informo aos que costumam acessar este BLOG, que um efeito ou sequela da virose
de Chikungunya, no início de janeiro passado, afetou minha visão, por alguns
meses, com grave infecção viral e que se tornou resistente aos antibióticos.
Sem condições de exercer a atividade em Várzea Grande, pedi afastamento das
funções que exercia por lá e, no atencioso desvelo do bispo Dom Vital, encontro-me
na paróquia Sagrada Família da cidade de Nova Mutum - MT, como vigário
paroquial. Graças a Deus, nesta semana já me sinto livre da virose, e, mesmo
com a visão limitada por lesões nas córneas, ainda não completamente
cicatrizadas, volto novamente a ler e escrever, além de me sentir de bem com a
vida.
O
povo da Bíblia usava diferentes termos para expressar a experiência do agir de
Deus. Ao mesmo tempo em que percebia Deus como mistério totalmente outro e além
da condição humana, sentia sua proximidade sob a forma de um espírito ou de uma
força motivadora e alentadora na vida das pessoas e das comunidades.
Mais tarde, recorreu
à palavra “sabedoria” como termo que melhor aproximava à constatação do que
experimentava da ação deste Deus de amor.
Na
manifestação de Jesus Cristo, o agir de Deus passou a ser assimilado como
“Palavra”, porque a fala de Jesus revelava à condição humana o quanto este Deus
queria bem às pessoas humanas.
No discurso
teológico criou-se a palavra “Trindade” para resumir as três grandes formas de
manifestação do amor de Deus, experimentado por pessoas em momentos e modos
distintos. O mesmo Deus bom envolveu grupos humanos em seu amor, de formas bem
explícitas: seu Espírito foi sentido; sua sabedoria foi reconhecida como algo
extraordinário e encantador e tudo quanto manifestou em Jesus de Nazaré acabou ratificando
de forma ainda mais explícita a certeza de que Ele nos quer muito bem (Não é um
castigador vingativo e chantagista, um ameaçador em torno da demonização de
tudo e muito menos um formalista de exigências das incontáveis regrinhas de
submissão). Jesus tanto manifestou o espírito de Deus, quanto sua sabedoria e
quanto seu desejo de que vivamos bem. Portanto, abriu perspectivas de redenção
e de salvação!
Assim, a atribuição
da Trindade de Deus, mais do que assunto para persuadir e convencer, é constatação
de síntese de como manifestações do bem-querer de Deus à condição humana foram
experimentadas: modos de Deus nos envolver e nos apontar um itinerário de vida
mais satisfatória.
Infelizmente
sob o conceito “Palavra”, ainda que se refira a Jesus Cristo, abusa-se do
discurso do controle e da submissão das pessoas para interesses religiosos e
ideológicos. Assim, a palavra fica restrita ao intimismo de piedades, de
conversas interesseiras para dobrar Deus. Já não se cria condições para o
difícil caminho da escuta ou da espiritualidade para um modo agir que Deus
manifestou em Jesus Cristo.
Até mesmo a
saturação do uso e do abuso da “Palavra”, mencionada exaustivamente por pregadores
religiosos, tende a matar a capacidade do diálogo com Deus para restringir-se a
mero instrumento de alargamento do controle de pessoas para interesses bem
distantes do Espírito, da Sabedoria e da Palavra de Deus.
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