sexta-feira, 13 de março de 2020

BÁLSAMO PARA CHAGAS COLETIVAS




O remedinho bom e eficaz,
Que largamente nos apraz,
É o bálsamo anestesiante,
Que cura a dor causticante.

A vasta rede de interação,
Veicula sua confirmação,
Que alguém foi culpado,
Pelo mal-estar causado.

Na imitação dos ordeiros,
Inumeráveis mensageiros,
Veiculam o ódio à vítima,
Com sustentação legítima:

Morrer e logo desaparecer,
Para ser bálsamo e refazer,
A grandiosa conduta social,
Impregnada de elã especial.

Eliminada a vítima culpada,
Reforça-se conduta ilibada,
Da boa ordem recuperada,
E da sociabilidade sanada.

A transcendência efetuada,
Insistentemente justificada,
Sobre a desgraça da vítima,
Dá o alívio da ação legítima.

Divino suporte confirmado,
Justifica no ato executado,
O reinício de novo aporte,
Que a todos dá nova sorte.

Na catarse tão passageira,
Some logo a visão fagueira,
Da restauração social feita,
E da coletividade satisfeita.

Atores da ordem e do bem,
Com suposta ajuda do além,
Sequer degustam paz social,
Em meio ao ajuste desigual.

Logo outro bode expiatório,
Rotulado de modo aleatório,
Será novamente vitimalizado,
Para paz no povo organizado.

Assim um velho vitimalismo,
Atualiza-se no cruel cinismo,
Que desloca causas mórbidas,
E repete as práticas sórdidas.





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