A
aparente sensação prazerosa de seguir Jesus não vai muito além da fantasia. E
quando uma estimulação identifica este seguimento com curas, milagres e
libertações, o imaginário acaba esperando somente coisas boas, satisfatórias e
gratificantes.
Evidentemente,
se não ocorresse alguma motivação satisfatória, muito poucas pessoas iriam
declarar-se discípulas de Jesus Cristo. Mesmo assim, pode ocorrer um processo
de ilusão em torno de fatores grandiosos e edificantes, cuja finalidade
subliminar é a de manter grupos controlados sob algumas presumidas orientações,
geralmente distantes daquelas dadas por Jesus Cristo.
Para
quem tenta andar no penoso processo de aproximar-se das características de
Jesus Cristo, sabe que cura, libertação e tantas outras boas expectativas, são
lentas, demoradas e nem sempre linearmente progressivas. E, neste processo, até
o encantamento pode ser revisto como procedimento induzido a erro.
O
profeta Jeremias tornou-se clássico com a queixa dirigida a Deus, perante o
sentimento de ter-se sentido logrado: “seduziste-me, Deus!”. Sentiu-se chamado
por Deus para fazer algo diante dos abusos religiosos que causavam um grande
mal-estar e sofrimento ao povo.
Sensível
a este clamor que lhe exigia voz e postura firme, sentiu medo, insegurança,
mas, mesmo assim, sentiu-se também interpelado por Deus para alertar e
profetizar contra os abusos e exterioridades vazias. Imediatamente teve que
lidar com perseguição, difamação e escárnio. Na decorrente crise de desamparo, o
profeta chegou a maldizer sua própria existência.
O
curioso é que nestes momentos de vacilação e de inconformismo diante do que
esperava da parte de Deus, Jeremias recriava, a partir do silêncio de Deus, a
convicção de que Ele o amparava para continuar a falar mal de tudo quanto
iludia o povo.
A
recordação deste aspecto da vida de Jeremias ativa uma dificuldade central da
vivência cristã: como ser discípulo de Jesus Cristo, sem combater tantos
evidentes abusos religiosos e sociais que, na verdade, aumentam a desgraça, a
doença e o sofrimento?
O
pior de tudo é quando supostos profetas e animadores de fé só conseguem falar
coisas genéricas, agradáveis, elogiosas e melífluas. Pior ainda mais, quando os
ditos discípulos apenas querem esta divindade falaciosa, que em nada implica na
cruz, sobretudo, a da história pessoal e do entorno, que atenta com perversas
maquinações contra a proposta de Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário