segunda-feira, 27 de maio de 2024

ANTICORPOS CONTRA CLERICALISMO

 

 

Um velho arquétipo cultural,

Fixou uma regra conjuntural,

De que o âmbito eclesiástico,

Depende do poder escolástico.

 

Sob o pensamento aristotélico,

O tomismo declarado angélico,

Fixou no ministério presbiteral,

Uma excelência transcendental.

 

Nova forma de Igreja do futuro,

Carecerá de parâmetro seguro,

Advindo de mulheres de viva fé,

Contra clericalismo na marcha ré.

 

Poder centralizado na hierarquia,

Sacraliza como divina etnarquia,

O papel exclusivo do presbítero,

Com o superior poder translitero.

 

A quebra da distinção abismal,

Entre o leigo e o poder sacral,

Requer que nos sacramentos,

Ocorram bons discernimentos.

 

Os batizados como sacramento,

Precisam mudar um estamento,

Já dono da articulação eclesial,

Para um testemunho potencial:

 

A todos cabe tarefa de agregar,

E os sacramentos compartilhar,

No inefável testemunho cristão,

De efetivo processo de salvação.

 

Vasto tarefismo administrativo,

Vem delineando pouco lenitivo,

Na aproximação do Evangelho,

Com a vida de sofrimento velho.

 

Sem fermento de reconciliação,

Pouco rende fala e gesticulação,

Sob a normatividade caducada,

Sem transluzir uma vida ilibada.

 

 

 

sexta-feira, 24 de maio de 2024

ARMAS CREPITANTES


 

Adoradas pelos senhores da morte,

Delineiam rumos da humana sorte,

Rígidos e durões com lida humana,

Fazem da sua vontade a lei insana.

 

Aprendem táticas de ódio e morte,

Com personalidade racional e forte,

E ignoram retos mecanismos de paz,

Para fazer o que ao interesse apraz.

 

Investem os recursos astronômicos,

Não para acalmar os seres atônitos,

Mas, para mata-los com crueldade,

Se não se submetem à sua vontade.

 

Formados para o pensamento único,

Encaram discordância com ar cínico,

E revidam com intimação e ameaça,

Escorados em armadura de couraça.

 

Acostumados ao crepitar de armas,

Pervagam longínquas regiões ermas,

Para ampliar o seu domínio mórbido,

Como modo mais absurdo e sórdido.

 

Longe de semear a paz e conciliação,

Alargam mortes com procrastinação,

Para exibirem, valentes e destemidos,

A condecoração de pérfidos alaridos.

 

Prefiro uma semeadura da esperança,

Contra a aposta de armas de matança,

Pois, apenas aponta para tragicidade,

Sem o ansiado futuro da humanidade.

 

Se os senhores da guerra movem ódio,

O olhar sensível aponta o outro pódio,

Que mistura emoção e desejo de vida,

Para relação humanóide enternecida.

 

 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

MOVIMENTO DAS ÁGUAS

 

 

Ao revelarem suas forças inéditas,

Silenciam falsas vozes intrépidas,

E escancaram as portas do futuro,

Com um recado severo e obscuro:

 

Fecha-se o futuro do planeta Terra,

Na ambição humana que emperra,

A sabedoria da natureza adoentada,

Por humanos na ação desorientada.

 

Falsa promessa de ampla felicidade,

Da agressão à Terra na cumplicidade,

Sustentou atos político-econômicos,

Para formas de vida bem anômicos.

 

A teimosia ante processos naturais,

Agora vítima de águas torrenciais,

Sequer pensa mudar sua obsessão,

Para continuar em doentia tradição.

 

Pensada além da força da natureza,

A condição humana com esperteza,

Sucumbe na catástrofe reveladora,

Da sua ação nefasta e exploradora.

 

Apesar de dores e da solidariedade,

O estalo de alertas à humanidade,

Aponta-a culpada pela catástrofe

E impõe lei com ordem limítrofe.

 

Nosso capitalismo cego e obstinado,

De desenvolvimentismo fanatizado,

Apontou para a exploração infinita,

E desequilibrou a natureza bendita.

 

Sob os eventos climáticos extremos,

Em quaisquer lugares que estaremos,

Vamos, impreterivelmente inseguros,

Viver os constantes e inéditos apuros.

 

As grandes cidades e suas emissões,

Produzem gases e naturais agressões,

E se configuram nas primeiras vítimas,

Diante da justiça ecológica de lástimas.

 

 

 

 

sábado, 18 de maio de 2024

SOB O ESPÍRITO DE DEUS

 

 

Uma milenar intuição bíblica,

Tornou-se referência pública,

Para acolher a ação bondosa,

Da nossa natureza amistosa.

 

Suposição do Espírito pairar,

Sobre água e vida a irradiar,

Lembrava interdependência,

Na Terra, sem a displicência.

 

Impregnados pela interação,

Humanos em procrastinação,

Romperam o vínculo sagrado,

Com mãe Terra e seu legado.

 

Ao invés do Espírito acolher,

Desejo doentio fez escafeder,

O equilíbrio da vida na Terra,

E biodiversidade que encerra.

 

Assimilou-se Espírito de Deus,

Com o poder divino de Zeus,

Para interferir e desequilibrar,

O que o Éden pudesse arridar.

 

Desfeita a interação simbiótica,

Afirmou-se a ambição psicótica,

Que devora pertença egolátrica,

E desajusta de forma despótica.

 

Sem capacidade contemplativa,

Endeusou-se a produção ativa,

De economia e largo consumo,

Que denegriu o humano rumo.

 

Culpamos a agressiva natureza,

Escondendo humana safadeza,

Para nos desincumbir da culpa,

E nos isentar na pífia desculpa.

 

Sem o espírito dos ecossistemas,

Endeusamos atos e estratagemas,

Da monocultura farta e rendosa,

Para saciar uma egolatria vaidosa.

 

Um Espírito que paira sobra águas,

Aponta tarefas inadiáveis e árduas,

Para equilibrar ação de água e terra,

Que hominídea ação tanto desterra.

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O TOURO AMÂNCIO

 

 

            De enorme envergadura, o touro Amâncio, da raça holandesa, apresentava uma peculiaridade especial: mal-humorado e bravo como só ele! As dezoito vacas sob seu império, numa pequena chácara, não acalmavam seu ar de carrancudo.

Pedro e Felipe, jovens estudantes de segundo grau, tinham, ao lado das tarefas escolares, a missão de cuidar da leitaria e todos os dias tinham que lidar com o touro Amâncio. Não bastaram as muitas reclamações com o patrão a respeito dos riscos de vida que Amâncio lhes apresentava.

A resposta do patrão era sempre a mesma: vocês são muito medrosos! Mesmo sempre armados com um pedaço de cano galvanizado para lhe bater na cabeça, o touro não se intimidava.

Um dia Felipe errou a batida com o ferro e Amâncio lhe deu uma chifrada perigosíssima. A sorte foi a de que a camisa e a blusa que usava eram desgastadas pelo uso e se romperam. Um chifre pegou no lado da cintura e lhe tirou uma tira de couro no lado das costas, junto com a ruptura da roupa. Voltaram os dois a reclamar com o patrão, que era um padre.

Repetiu a conhecida cantilena irônica e debochada: vocês são muito medrosos!

De tardezinha, na hora da ordenha, o touro estava deitado na frente do estábulo e apareceu o padre. Chegou de mansinho, vestido com batina cinza, e foi passando a mão do dorso do touro. Quando menos esperou, o touro deu uma soprada forte, e, numa virada repentina, se ergueu e lhe desferiu uma chifrada que o jogou a pelo menos um metro e meio de altura, com um detalhe cinematográfico. Como o padre vestia batina, ela lhe caiu sobre o corpo e apareceram as pernas brancas no ar. Caiu como um saco de estopa cheia de farelo.

Pedro e Felipe tiveram que conter-se para não exultar e gozar aos gritos com o visual daquela cena. O padre, assim como conseguiu alinhar-se com a batina, saiu em disparada e veio até o estábulo.

Os dois ordenhadores, para não rir diante do padre, esconderam o rosto atrás das vacas, como se não tivessem percebido cenário tão pitoresco. O padre se aproximou deles e com sua típica voz mansa e dengosa falou: Acho que vamos mandar beneficiar o Amâncio!

No dia seguinte, às cinco horas da manhã, estava ali o padre e o castrador de touro. Feito o procedimento de extração da fonte das potências seminais do touro Amâncio, veio a recomendação de um trato abundante de ração e mandioca a fim de que o “ex-touro” viesse a reder muita carne.

Longos meses de fartura de comida não apontavam para qualquer sinal de aumento de peso. Com um razoável prejuízo consumado, pelo que Amâncio devorava todos os dias sem engordar, o padre resolveu finalmente, abatê-lo.

Ao se abrir a buchada do dito animal, constatou-se a possível fonte da brabeza de Amâncio: estavam ali, cinco cuecas de elastina que ele havia alcançado no varal de secar roupa. A suspeita de Pedro e André, estava sendo a de que algum vivente humano, movido por fetiche por cuecas, havia surrupiado aquelas peças. Constatado que o touro Amâncio as deglutiu, e que elas estavam retidas ali no seu bucho, chegaram a um diagnóstico de senso comum: esta extraordinária brabeza de Amâncio deve ter sido, na verdade, sua diária e contínua dor de barriga.

 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

NO REINO DO PENSAMENTO ÚNICO


 

Velho mito indo-europeu,

Tantos mundos escafedeu,

Para dominar e submeter,

E em tudo se intrometer.

 

A acepção do insubmisso,

Já criava o compromisso,

De declará-lo um inimigo,

E persegui-lo pelo perigo.

 

O desejo do que ele tinha,

Virava direito a briguinha,

Para a posse do seu bem,

E deixa-lo indefeso refém.

 

A doentia crença na razão,

O paraíso de feliz profusão,

Saciaria de bens os viventes,

E os deixaria bem contentes.

 

No rumo único da felicidade,

Indicou consumo à saciedade,

Mas, dito paraíso virou fugaz,

E surrupiou toda humana paz.

 

A busca de poder e consumo,

Gerou lixo no humano prumo,

E tudo quanto é descartável,

Afetou o humano vulnerável.

 

Sobra o rol do lixo relegado,

Porque o paraíso propalado,

Frustra em larga abundância,

E gera frustrada convivência.

 

Este modo que emburreceu,

Criou paranoicos no himeneu,

Pretensos heróis mandantes,

A cada dia mais intolerantes.

 

Criam as polarizações cruciais,

Veem adversários como rivais,

E vociferam contra os inimigos,

Que não são submissos amigos.

 

A sua patologia é a da lamúria,

E vociferam o ódio com injúria,

Criado, ampliado e difundido,

Para justificar foco denegrido.

 

Pensam o Eu no lugar do “nós”,

Insensíveis ante a coletiva voz,

Mas, atrelados às hierarquias,

Do poder de pífias oligarquias.

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...